sexta-feira, 26 de março de 2010

Negociata do ensino

Hoje, ingenuamente, fiquei a saber que para trabalhar na minha área já não basta ser "de borla" ainda temos que pagar! E não, não estou a falar das despesas de combustível e alimentação, estou a falar num seguro de trabalho no valor de 400euros! Alguém me arranje palavras para descrever o ponto ao que o país chegou em que é preciso pagar para trabalhar! Não deveria ser o contrário? Nós trabalhamos para ganhar dinheiro não é? Então para que é que os nossos pais andam a gastar dinheiro em cursos que temos que pagar para trabalhar nessa área? Quem é o responsável por toda esta situação?

A resposta a meu ver é bastante simples: o ensino privado!

A área das tecnologias da saúde atravessou um período em que o técnico era um sujeito raro, mal se formava um técnico este era imediatamente absorvido pelo mercado. Quando se deu a inflexão da situação a escola pública tratou de fechar temporariamente as suas portas para não saturar o mercado e foi aqui que surgiu a oportunidade ao ensino privado de colmatar a brecha deixada pelo público. Só que desta vez, ao contrário do ensino público que libertava anualmente 30 técnicos de Análises Clínicas por ano, CADA escola do ensino privado libertava 60 ou mais! Facto este que é o grande responsável pela actual situação do mercado de trabalho na área da Saúde (nao só nas análises clínicas). Hoje em dia temos a sair para o desemprego 600 novos técnicos por ano sem que ninguém coloque travão a esta situação. Estes abutres do negócio pouco ou nada se interessam se os seus alunos tenham colocação no mercado de trabalho desde que os pais (ricos?) paguem a mensalidade na ordem do valor anual de propina do ensino público ou quase! Culpados somos todos nós que nos deixamos cegar por esta negociata do ensino e continuamos a permitir que a situação se agrave ainda mais. "Não há média para o público vamos para o privado" o grande problema é que há já gente a mais e já não é uma questão de vocação, é uma questão de espaço!

Há dias ouvi o Pedro Abrunhosa a dizer que esta geração é a geração dos 1000euros. Os "poucos" felizardos que acabam a licenciatura e são colocados na sua área ganham (e contentam-se com)1000euros. Os poucos audases que têm a capacidade de se deslocar para o estrangeiro e descobrem, tristemente, o país onde estavam mergulhados, ganham entre 2000 e 3500eur e jamais voltam...

E nós? Continuamos vendados sujeitos ao poder de quem o tem...

7 comentários:

Castores1950 disse...

assino totalmente o escrito

Pedro Fonseca disse...

A solução passa por criar mais emprego.
O grande problema do nosso país actualmente é a incapacidade para criar emprego.
Só se vêem empresas a fechar.
As novas não resistem e fecham após alguns meses.
São precisos apoios às pequenas e médias empresas (onde é que eu já ouvi isto...) o mais rápido possível, seja de que sector forem!

Anónimo disse...

Escuso de te dizer o quanto concordo contigo... passamos 4 anos a debater este ponto. :)
Mas quero quero acrescentar que um dos motivos para esta desgraça profissional colectiva é responsbilidade tambem da nossa geração, da sua falta de ideais, valores e falta de coragem. As poucas vozes activas sao abafadas pela indiferença colectiva e todos se sujeitam ao capitalismo e hipocrisia. Muitas mais coisas estao mal na nossa formçao... mas isso tu sabes :)
Bj Lipe......

Ticha

Espinha disse...

Mas Pedro na área da saude essa situação não se corrige com apoios, bem pelo contrário, a actual situação exige uma redução no número de funcionários até. Há instituições que têm 50% do seu orçamento só em despesas de pessoal, penso que em Economia a percentagem ideal ronda os 40%, mas nesse campo penso que poderás falar melhor que eu :) Com esta onda de reinvindicação de salário no sector da saúde, enfermeiros e Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica (TDT), quanto maior o salário menor terá que ser obrigatoriamente o numero de pessoal nos quadros para a percentagem de salário não se agravar. Logo a meu ver será no número de novos licenciados que terá que haver um corte. Redução do número de vagas no ensino. (ressalvo que apenas estou a falar na situação dos TDT) Mas com a abertura de faculdades privadas de Medicina, por exemplo, penso que esta situação se irá alastrar à classe médica como já aconteceu à classe farmacêutica...

Espinha disse...

Seja bem-vinda sindicalista :p

Anónimo disse...

:) Muito obrigada camarada... mas olha que o espirito desmoreceu muito

Diana disse...

Eu ontem fiquei a saber que os putos do secundário com curso profissional de análises no fim do 12º fazem um estágio, que podem ser num hospital, por exemplo, e que podem ficar realmente a trabalhar lá! (Isto dito por uma aluna desse curso, pelo que ainda tenho algumas dúvidas!)
Supostamente, pela legislação, não é necessário ser um licenciado a trabalhar lá?
Cada vez me passo mais com isto! Cada vez stresso mais em ter escolhido este curso... e cada vez pergunto mais "porquê"? Porque raio é que há esta situação? Porque raio nos iludem quando estamos no secundário? Como é suposto sermos membros activos da sociedade?