segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Incêndios florestais: a bioanálise

Nesta altura do ano mal consigo ligar a televisão para ver a actualidade pois entristece-me confirmar que a estupidez humana não tem limites. Não se pode negar que existe alguma inimputabilidade no que diz respeito a determinados comportamentos que provocam algum tipo de prazer, como por exemplo o acto de fumar que por mais óbvio que seja que fumar causa graves malefícios à saúde, é inimputável o acto de fumar e não ético proibir de fumar quem quer que seja com um pequeno senão.. desde que não atinja a liberdade de terceiros. Este terceiro, responsável por ser difícil por vezes viver em sociedade, é a razão pela qual certos comportamentos devem ser punidos em conformidade com a lesão cometida. A piromania leva a comportamentos que de certo modo provocam prazer no pirómano, porém as nossas autoridades parecem encarar este comportamento com leviandade. A piromania afecta, e de que maneira, terceiros.

São óbvios os prejuízos materiais e humanos que este tipo de catástrofe acarreta, várias casas ardidas, vários desalojados, prejuízos avultados ao nível do gado e pecuária, ... mas há dois aspectos que eu gostava de salientar: os prejuízos humanos e ambientais.

A vida humana é, a meu ver, o bem maior que deverá ser tido em conta. Apelo à reflexão sobre o trabalho voluntário de milhares de bombeiros que nada ganham em troca senão a preservação do património ambiental do país e que por diversas vezes perdem a sua própria vida para proteger algumas pessoas que nem sequer valem o esforço de calçarem as botas dos seus uniformes. Suportam temperaturas elevadíssimas, dormem umas 4 horas por dia para renderem os seus colegas já exaustos enquanto o resto do país está a gastar recursos nacionais em ilhas paradisíacas no estrangeiro num colchão de água a desfrutarem dos seus refrescos e outros... a atear mais um fogo numa floresta algures...

Em segundo lugar, e muitas vezes abafado pelas notícias de casas ardidas, é o impacto ambiental inerente. A água potável utilizada no combate aos incêndios é um bem tão escasso e tão precioso que se houvesse a mínima noção de que num futuro próximo esse bem irá ser pago a peso de ouro, os incendiários andariam a apagar os seus fogos que atearam com rancos de árvores queimadas para evitar o consumo de mais recursos naturais.
E novamente o papão do aquecimento global. Não há a sensibilidade (ainda que as catástrofes naturais cujo homem pouco ou nada pode fazer para as evitar estejam a aumentar dramaticamente) que é urgente aumentar a taxa de retenção de carbono da atmosfera sob pena de a temperatura global aumentar para níveis humanamente insuportáveis. O Mundo assiste de ano pra ano a records de temperatura nas vagas de calor e Portugal não é excepção com os termómetros a registarem temperaturas na ordem dos 40ºC por vários dias consecutivos. E o pobre tuga, ao contrário de estar a fazer o possível para MANTER e se possível AUMENTAR a floresta que retém o carbono responsável por esse aumento de temperatura... está a dizimá-la sem eu perceber muito bem a razão... será piromania? Será a madeira queimada vendida a um preço mais barato aos transformadores da madeira? De que servirá o lucro económico se não tiverem oxigénio para respirar dentro de 20 anos?

Cada hectare de floresta retém em média cerca de 80 a 200 toneladas de dióxido de carbono por ano. Em portugal a área ardida quase duplicou entre 2008 e 2009, atingindo perto de 30 mil hectares. Este ano a área ardida ascende aos 68mil hectares. Ora só neste período Portugal deixará de reter via florestal entre 7 840 000 a 19 600 000 toneladas de dióxido de carbono! Portugal emitiu em 2006 (estando acima dos limites admissíveis internacionalmente) 36 898 milhões de toneladas. De uma forma não científica arrisco-me a dizer que ao longo dos anos, temos vindo a destruir metade da capacidade de retenção de carbono do país ao "permitirmos" que ainda exista meia dúzia de fulanos que continua a arruinar a saúde de 10 milhões de portugueses (e mais alguns a nível global) impávidos e serenos. Já para não falar do agravamento da qualidade do ar e no seu impacto nos doentes com patologia respiratória como a asma e a doença pulmonar obstrutiva crónica.

É absolutamente lamentável que as autoridades continuem a promover este tipo de atitudes não aumentando drasticamente a carga penal deste tipo de CRIME humano e ambiental. O agravamento de 2007 revela-se manifestamente insuficiente. Serão necessárias penas máximas de cadeia e multas avultadas para desencorajar a destruição lenta da espécie humana muito acima de qualquer economia, seja a que escala for, e evitar comentários populares do tipo: "era apanhá-los e amarrá-los a uma árvore..." ainda mais lamentáveis...

2 comentários:

Joaquim disse...

Como é que isto é possivel?

"diversas vezes perdem a sua própria vida para proteger algumas pessoas que nem sequer valem o esforço de calçarem as botas dos seus uniformes"

Como é que conseguem perder a própria vida diversas vezes? Não se vive apenas uma vez?

Já agora... A água utilizada para apagar os incêndios é água potável?

Espinha disse...

Caro Joaquim,

se considerarmos todos os bombeiros como um todo, como instituição, o bombeiro morre várias vezes. Por vezes é tão difícil perceber a mensagem de um texto que não está redigido de forma clara, que torna-se desnecessário criar dúvidas onde elas não existem. Penso que era desnecessário acrescentar um tom jocoso a uma temática dramática como esta.

Relativamente à água potável, grande parte dessa água é deslocada dos rios (água doce) que, ainda que não seja própria para consumo, o seu tratamento para se tornar potável seria muito mais económico que o tratamento de uma água salina por exemplo.

Com isto também acrescento os prejuízos relativamente ao transporte dessa água para o combate das chamas, o combustível necessário para esse transporte também é algo que tem impacto ambiental.

Obrigado pelo seu comentário.